Adoro Cinema

Adoro cinema. Gosto de dramas, histórias de amor que acabam mal, filmes históricos, políticos, filmes sobre inocência, ternura, quimeras, filmes de dança, documentários a preto e branco, filmes lentos para todos os dias, filmes de acção para domingo à tarde, filmes com dramas familiares, animações em plasticina, filmes simétricos, filmes asiáticos, filmes latino-americanos, filmes suecos, filmes sul-africanos, filmes com histórias de humanos.

Adoro cinema. Poucas vezes me foco na banda sonora, apesar de o meu trabalho ser a música. Normalmente deixo-me levar no acordo e mergulho no filme, acredito nele, dedico-me aos personagens como se fossem meus amigos, escuto, tento compreender os seus dilemas. Só reparo na música nos créditos de abertura ou quando surge uma canção num momento-chave, como aquele na parte dois do filme “Che”, de Steven Soderbergh, em que ouvimos a canção “Valderrama” na voz profundamente argentina de Mercedes Sosa quando Ernesto Che Guevara morre, enquanto aquele povo boliviano, latino-americano, olha o seu corpo a ser carregado para bem longe, para sempre. O filme acabou mas a música ficou comigo, indissociável da perda dos ideais revolucionários de Che, indissociável da História com “H” maiúsculo.

Foram essa cena e essa música que inspiraram o momento “Matacedo” com a voz de Paulo Flores, no “Ar Condicionado”. Eu queria uma voz como a da Mercedes Sosa, que simbolizasse um país, um continente, uma maneira de ser humano e de estar no mundo. Queria a voz do Paulo, que é tudo isso para este “pequeno” país. Angola. Queria que a canção parecesse dele, de um dos seus discos anteriores. Queria que a canção parecesse antiga. Queria que a canção parecesse nossa.

E então aconteceu.

Quando eu fecho os olhos
Imagino um país novo
Quando eu fecho os olhos
Eu me lembro de novo
Para não me dissolver
No cacimbo, na lembrança
Acerto o passo na dança
Obstinada dos dias

Tudo era bem melhor
No tempo em que ainda me vias

De noite adormeço o meu corpo antigo
Enferrujado e dorido
Como um sobrado em ruínas
Sonho para não esquecer
Esqueço ao amanhecer”

Hoje sai o álbum completo com a banda sonora. Haverá muita gente a ler este post que ainda não viu o filme. Mas fica o conselho de amiga: se tiverem oportunidade, vejam. Sigam o filme nas redes sociais para acompanhar as datas de exibição. Este filme tem percorrido meio mundo, espantado a crítica, conquistado festivais. É um filme que merece ser visto, uma estória que precisava de ser contada. É um filme angolano. Cinema que faz sentir e faz pensar. E eu já vos disse antes como eu adoro cinema.

Ouve o álbum com a Banda Sonora Original de ‘Ar Condicionado’ neste link.